domingo, 31 de maio de 2009

Neonagismo na Europa e no Brasil.



A imigração e a dificuldade de assimilação dos trabalhadores das regiões periféricas da economia européia; a recessão e o desemprego; a degradação do nível de vida; a diminuição da arrecadação de impostos e o ressurgimento de velhos preconceitos étnicos e raciais favorecem, a partir dos anos 80, a retomada de movimentos autoritários e conservadores denominados "neonazistas".
Os movimentos manifestam-se de forma violenta e têm nos estrangeiros o alvo preferencial de ataque. Valendo-se também da via institucional parlamentar (Frente Nacional, na França; Liga Lombarda e Movimento Social Fascista, na Itália) para dar voz ativa às suas reivindicações, os movimentos neonazistas têm marcado a sua presença no cotidiano europeu, em especial na Alemanha, Áustria, França e Itália.
No Brasil, "carecas", "skinheads" e "white power" são alguns dos grupos em evidência nos grandes centros urbanos, que promovem ataques verbais, pichações e agressões dirigidas principalmente contra os migrantes nordestinos e a comunidade judaica.
Neonazismo em São Paulo

1. Um Outro Brasil: Do Integralismo aos Movimentos Neonazistas
Para entendermos os movimentos neonazistas no Brasil devemos nos remeter a duas épocas e locais diferentes: Primeiro, o movimento careca tem uma veia de integralismo da década de 30. E temos na Inglaterra entre as décadas de 60 e 70 o surgimento do movimento neonazista e do movimento punk que nos ajuda na compreensão da vertente brasileira.
Integralismo: ser ou não ser fascista, eis a questão?
Anauê! Esta era a saudação dos integralistas no inicio da década de 30. É uma expressão tupi que significa viva, salve. Era o resgate nacional do Brasil por seu principal ideólogo, Plínio Salgado. Salgado fundou em 1932 a Ação Integralista Brasileira (AIB), cujo símbolo era o S (letra grega 'sigma', que significa soma).
Plínio Salgado dá uma outra visão de Brasil e de sistema de governo. Segundo Salgado, a população brasileira não estava preparada para a democracia, então esta precisava de um Estado forte e centralizador. Não comecem a denunciá-lo como fascista ou nazista, pelo menos ainda não. Apesar do movimento Integralista ter várias pontos em comum com o fascismo italiano, também tem suas diferenças. Vamos às semelhanças.
O movimento integralista é nacionalista e prega um Estado centralizador que englobaria política, economia e religião. "Deus, Pátria e Família" é o seu lema. Com a benção da Igreja, formaria um Estado forte que combateria a ameaça comunista, liberal e do capitalismo imperialista. Assim como o Estado de Mussolini.
Segundo Plínio Salgado, o Brasil formaria uma raça superior através de uma mescla de raças (brancos, negros, índios, asiáticos, etc.) onde esta seria o futuro da humanidade. E esta mesma mistura resultaria em uma sociedade harmoniosa, pois ele praga o antagonismo de classes: não a luta de classes, mas a convivência entre ricos e pobres em perfeita harmonia. Era uma releitura que Mussolini fizera de Marx, adaptado para o nosso Brasil.
O integralismo foi uma ideologia que atingiu mais a classe média brasileira. Tanto as milícias quanto os dirigentes em sua maioria, pertenciam a classe média. A categoria marxista de intelectuais descobre que o proletariado é fraco e o Estado é forte, tornam-se, portanto, fascistas1 . Como era uma ideologia nova, formulada na década de 30, o integralismo via na juventude a sua força motriz. Acusava o comunismo e o liberalismo de serem ideologias velhas e anacrônicas.2 E desta juventude o movimento teria material para montar a vontade nacional, única e total. Não se enganem: todo movimento ou regime de cunho fascista tem um fim totalitário. E as diferenças? Vamos a elas então.
Como Plínio Salgado era a favor de uma mescla de raças, os judeus não eram discriminados por ele. A figura individual do judeu e não a figura ideológica dele como sendo o banqueiro, o capitalista explorador, aliados do capitalismo e do liberalismo. Isto batia de frente com a ideologia de Gustavo Barroso. Chefe da milícia integralista, os camisas-verdes, este era radicalmente contra os judeus. Ele escreveu palavras nada amistosas contra eles em seu livro: "Judaísmo, Maçonaria e Comunismo".
A ideologia pregada por Barroso não era majoritária dentro da AIB. Barroso frisa que o empobrecimento brasileiro deve-se a ligação dos judeus daqui com o capital internacional. Ou seja, a perseguição justifica-se por motivos econômicos. Hitler também pensava assim, porém o anti-semitismo alemão tinha o caráter mais biológico com a finalidade da construção de uma raça pura. Na Itália pregava-se o resgate dos caracteres nacionais ( da Roma Antiga) e não a de uma unidade racial. Como os judeus não tem descendência romana, não tinham direito à cidadania italiana.
Por que não subiu ao poder? Primeiramente, o Brasil não dispunha de "camadas sociais desesperadas, frustradas e violentas como existiam na Europa pós-guerra".3 Muitos menos um nacionalismo exacerbado tanto da população quanto do exército brasileiro. Ou seja, não havia um descontentamento generalizado na base da população que a levasse a tomar posturas radicais e ofensivas contra o governo. Getúlio Vargas soube trabalhar muito bem isto com a criação do salário mínimo, organização de sindicatos e várias concessões à classe trabalhadora.
Getúlio Vargas. Esta foi a "pedra" no caminho do integralismo. Plínio Salgado viu com bons olhos o governo de Vargas, representando um Estado forte e conservador. Por ser anticomunista, Getúlio recebeu o apoio da AIB desde o governo provisório até o golpe que originou o Estado Novo, em 1937. Como o golpe tinha um caráter autoritário e conservador, ele recebeu o apoio de Plínio & Cia, porém o mesmo Getúlio extinguiu todos os partidos políticos e agremiações políticas, inclusive a AIB. Depois de receber o apoio, percebeu que não precisava mais deles e os dispersou. Mas esta não foi a morte definitiva da AIB, ela ressurgiu em 1945 sob o nome de Partido da Representação Popular (PRP) e continuou em funcionamento como veremos mais adiante.
2. Nascimento, Desenvolvimento e Crescimento do Neonazismo Brasileiro
2.1 Era uma vez na Inglaterra...
Só porque o nazismo é alemão e o fascismo é italiano isso não quer dizer que o neonazismo tivesse que nascer em um destes dois países. Vamos ver o que acontecia na Inglaterra na segunda metade da década de 60.
Final da Copa do Mundo de 1966, Inglaterra e Alemanha. Com a vitória inglesa, o Reino Unido inteiro comemora e tem início a confusão também. Os "hooligans" começam a se destacar nesse período. Alguns deles raspam a cabeça para dificultar sua captura pela polícia. É uma comemoração destrutiva. Devido à cabeça raspada são denominados Skinheads (cabeças peladas) pelos outros membros da sociedade .
Estes primeiros skinheads vestem-se como operários, com calcas jeans, botas e suspensórios. Gostavam de reggae jamaicano ( Bob Marley, entre outros) e viviam nos subúrbios industriais londrinos. Tem um caráter nacionalista exacerbado, acentuado notadamente por este jogo na Copa do Mundo. O orgulho de ser inglês. Em um primeiro momento não tinham nenhuma ideologia definida, apenas amavam loucamente o seu país.
Em fins da década de a extrema direita dá as caras: o National Front, partido político que se forma nesse período de efervescência.
Em 1968 Enoch Powell faz um discurso que "apelava para a defesa dos cidadãos britânicos, de sua cultura, de sua raça e de sua nação contra os imigrantes".4 Temos aí um discurso não só nacionalista como também xenófobo.
Agora temos uma influência de extrema direita dentro da política inglesa. Esse discurso encontra eco, pois a Inglaterra estava em uma crise econômica que afetou diretamente o operariado industrial. Como o nível de desemprego aumentava, os responsáveis por tal seriam os imigrantes que eram contratados por serem mão-de-obra mais barata, segundo o discurso do National Front. Manifestações violentas passaram a ser atribuídas aos hooligans e aos skins. Para piorar a situação, na segunda metade dos anos 70, Margaret Tatcher sobe ao poder e põe em prática o liberalismo econômico. Tatcher ataca os sindicatos e todos os benefícios sociais concedidos durante a gestão anterior. Isso só gerou mais descontentamento do operariado inglês.
As manifestações culturais dos sskinhead eram o futebol - exemplo de esporte viril - e a música, com o reggae jamaicano. Com o passar dos anos o reggae tentou atingir o público negro com referência s à origem africana, e isto distanciava os skinheads desse estilo musical por serem estes brancos. O rock n'roll da época também tinha um discurso que não se encaixava na realidade destes jovens operários: o "paz e amor" do movimento hippie, a sonoridade complexa e letras existencialistas do rock progressivo estavam longe da visão de mundo dos primeiros skinheads.
Eis que surge em 1975 uma banda de garotos, fazendo um rock simples, com letras críticas e visual agressivo: os "Sex Pistols". A partir deles o "punk" ( em inglês "lixo", "podre") assume o caráter de movimento. Com letras ofensivas, o punk rock passou a ser uma alternativa ao mercado fonográfico da época.
Mas o mercado não iria deixar escapar essa fonte de renda. No início era uma forma musical que não se encaixava em qualquer meio de comunicação e suas roupas, rasgadas e cheias de pregos e alfinetes não tinha em qualquer boutique ou brechó. Eis que temos a new wave (nova onda) que passa a vender o punk como um produto de prateleira. A partir dessa new wave que o punk rock ficou conhecido pelo público mundial.
Os skinheads porém não se identificaram com os punks por terem um visual "sujo" e terem o rótulo de drogados. A forma de música e os shows eram um motivo de união, no entanto, entre eles. Nestes shows via-se jovens com símbolos diversos, como suásticas, símbolos anarquistas e camisas com o rosto de Marx estampado, além da bandeira da Grã Bretanha. Uma verdadeira confusão ideológica era o que se via.
Pelo fato de serem nacionalistas e terem um discurso xenófobo e conservador, os skinheads da segunda metade da década de 70 identificaram-se com a extrema direita do National Front. Só os punks tinham um discurso mais anarquista, além de socialistas que não encontravam acolhida entre os skinheads ingleses.
Na virada da década, temos um movimento que prega a união entre punks e skinheads: o "Oi!" (saudação cockney, oriunda da Escócia) surge com a proposta de acabar com as diferenças e frequentes brigas entre as duas tribos. A banda "The Exploited" surge como expoente desse estilo e levanta a bandeira da união. A mídia, no entanto, via com maus olhos tanto uma como outra facção, atribuindo a eles no conjunto uma onda de violência e bagunça. A acusação da existência de um vínculo entre bandas "Oi!" e a extrema direita britânica vem a agravar o quadro. Diante da pressão e do bombardeio da mídia de incidentes desagradáveis, o movimento redundou em fracasso.
2.2. O Brasil dos Punks e dos Carecas
Diferentemente dos britânicos, os punks surgiram antes dos skinheads no Brasil. As primeiras informações sobre o movimento punk chegam ao país no final da década de 70, precisamente no ano de 1977. Por ser um movimento juvenil, alguns jovens brasileiros aderem ao visual e ao tipo de música punks. O "Sex Pistols" foram referência para esses jovens que, assim como os ingleses, eram de origem operária, pobres e viviam nos subúrbios da capital paulista.
Segundo Márcia Regina, as primeiras reportagens sobre o movimento punk tinham um caráter de descredito por parte da sociedade em geral, sendo caracterizado por muitos como um modismo. Já na Europa, os órgãos jornalísticos viam o movimento com outra perspectiva, preocupados com a onda de violência havida, principalmente, em shows de rock. A imprensa brasileira, no entanto, ataca o movimento punk brasileiro como sendo ele um movimento politicamente contraditório e antidemocrata. Isso deixa claro o desconhecimento por parte dos órgãos de informação da diferença entre punks e skinheads, que nesse momento já apareciam como um grupo em formação na periferia da cidade de São Paulo.
O movimento new wave, oriundo da Inglaterra, mesmo criticada pelos punks em geral, foi a responsável pela chegada da música, dos costumes em terras brasileiras. Em 1978, ainda segundo Márcia, foi um ano de crescimento para o movimento punk brasileiro, os jovens do subúrbio paulistano começaram a se identificar com esse movimento, e passam a se agremiar em "gangues".
Os relatos que Márcia Regina colhe em seu livro são importantíssimos para a compreensão do início do punk brasileiro. Entrevistando vários elementos colhidos no seio do movimento, conseguiu depoimentos reveladores com relação ao surgimento do movimento na cidade de São Paulo. nas palavras do punk S. :
"Em 1978 a ideologia punk era mais niilista, ligada à autodestruição, (...). uma revolta mais pessoal, individualista. Mais tarde o movimento mudou para uma coisa mais anarquista, um combate coletivo ao Estado e às normas sociais, às regras burguesas. Isso começou a ocorrer em 1982 e eu entrei nesta época no movimento."
Este mesmo rapaz relatou que sabia do que estava acontecendo na Inglaterra na época, através de publicações dirigidas e revistas em geral. No trecho transcrito, ele demonstra claramente o aspecto de ausência de uma ideologia dominante no movimento e a evolução do movimento para um dimensionamento mais objetivo e de caráter mais abrangente. O ponto de convergência dos primeiros membros encontra-se unicamente no caráter de contestação da sociedade e suas instituições. Em 1982 a anarquia aparece como um direcionamento político para todo o grupo, elegendo como alvo de críticas de uma forma mais precisa o Estado e a sociedade burguesa. A música aparece como elemento catalisador desta mudança, conforme se depreende da leitura de letras de grupos como os "Sex Pistols"; como exemplo temos músicas como "Anarchy In The U.K." e "God Save de Queen", censuradas nas rádios britânicas e adotadas como hinos pelos punks. O boicote se deve ao caráter agressivo e ácido das críticas à forma de organização do governo à monarquia..
Outro entrevistado por Márcia Regina justifica a agressividade e a tendência à violência adotada também pelo movimento brasileiro: segundo ele a formação da gangue tinha como fim não apenas agremiar indivíduos de idéias semelhantes, mas também como uma forma garantir a integridade física dos simpatizantes do movimento punk; segundo ele, "na periferia, ou você bate ou você apanha.(...)".6 Isso era uma forma de proteção, unir-se a um grupo. Esse movimento não era unificado e isso gerou uma separação entre os punks da city (oriundos do centro da cidade de São Paulo) e os punks do subúrbio (região do ABC paulista e Zona Leste de São Paulo).
Desta separação originou-se a diferenciação entre os punks de São Paulo. As diferenças entre as duas tribos gerava conflitos freqüentes entre as mesmas, geralmente tendo como palco shows de música e encontros casuais. Novas dissidências internas tomaram corpo no interior do grupo dos punks de subúrbio: com um discurso que valorizava a anarquia e os valores morais católicos, começou o movimento dos cabeças raspadas, que de início unia-se aos punks do subúrbio contra o inimigo comum da city. Esta "rixa" começa na acusação dos punks do subúrbio de que os punks da city ouvem new wave. A violência física, no entanto, passou a possuir um caráter mais cultuado no recém formado Carecas do Subúrbio.
Tal como havia acontecido no Reino Unido com o movimento "Oi!", começou a se criar um movimento tendo como fim a união e o término das diferenças entre os diversos segmentos. Bandas como "Os Inocentes" entre outras, passaram a levantar a bandeira do fim dos conflitos, pregando a conscientização contra o inimigo comum, o sistema econômico vigente. Começaram então a circular fanzines conclamando todas as facções à união através de shows, na tentativa de acabar com a imagem do punk como um marginal sem perspectiva e sem outra ocupação além do vandalismo gratuito. O movimento, tal como na Inglaterra, não surtiu efeito: as diferenças entre carecas e punks efetuou no distanciamento destas.
Com uma ideologia mais concatenada, os carecas eram contrários à anarquia, as drogas e ao modo de se portar e vestir dos punks. Assumindo a bandeira nacionalista, passaram a cultuar o corpo e a pregar os valores conservadores como a moralização da sociedade e a dignificação do trabalho. O desenvolvimento de alguma forma de trabalho passou a ser ponto de honra, como forma de se dissociarem da imagem então a eles atribuída.
Segundo os relatos colhidos de Márcia Regina, já havia carecas em 1980, porém só teve caráter de um movimento diferenciado dos punks em 1983-84. Peço licença para Márcia Regina ao reproduzir um manifesto feito por um careca em 1985 onde esclarece a aparição do carecas do subúrbio. Vamos a ele: "Como todo mundo já deve saber, o movimento punk surgiu no Brasil em 1978, quase ao mesmo tempo que na Inglaterra.
Neste ano, quando começou a se formar gangues de vila, existia união e os 'carecas do subúrbio' era uma gangue punk com componentes limitados. Com o tempo, o movimento punk foi sendo usado pela mídia e começaram a aparecer os embalos, as roupas produzidas, tudo que os punks repudiam. Ao mesmo tempo, a maioria dos punks da Zona Leste (eu, por exemplo) começaram a reforçar os 'carecas', que a essa altura já era o 'movimento careca', tinha se expandido pelo interior de São Paulo e vários Estados do Brasil. Não é verdade que odiamos punks, o que odiamos são os embalos do movimento, os boys, os pilantras da city e os alienados, que passaram uma imagem errada e prejudicaram os autênticos que são pessoas que gostam do movimento e que lutam para que haja união entre TODOS os jovens EXPLORADOS"7
Este manifesto foi escrito pelo careca G., que como todos os carecas originais, começou no movimento punk e posteriormente veio a se separar destes pelas razões anteriormente colocadas e que ele próprio citou. Podemos ver que temos um forma de expressão dos punks e dos carecas além da música: são as fanzines ( fan = fã ; zine = revista). Eles proliferaram em 1982, exatamente quando o movimento começou a se organizar ideologicamente em torno da bandeira da anarquia.
Nestes fanzines temos a expressão da ideologia de ambos os grupos, punks e carecas, além de informações de shows, de bandas e de notícias do que estava acontecendo no cenário punk no exterior. Por isso faziam reuniões, traduziam artigos estrangeiros sobre o assunto, na tentativa de direcionar o movimento para uma maior conscientização dos membros. Recortes de jornal e de revistas passaram a circular com maior freqüência entre os jovens, muitos guadavam estes recortes sobre o assunto. Há também a troca de informações entre os representantes de diversos países, relatando inclusive o crescimento do movimento neonazista, que por sua maior organização começa a tomar corpo de maneira mais expressiva que o próprio movimento punk. Como forma de retaliação, fanzines punks começam a realizar uma campanha contra as bandas e agremiações que erguem a bandeira do neonazismo. As suásticas até então existentes em jaquetas de alguns punks passam a ser substituídas por outros símbolos: a presença inicial deste símbolo era apenas mais uma forma de agressão visual, nada tendo de componente ideológico em sua utilização.
Tal reação por parte dos punks não conseguiu, contudo, afastar os carecas da influência da ideologia neonazista. Na segunda metade dos anos 80, as primeiras influências claras atingiram o solo nacional, através de artigos publicados em revistas e jornais estrangeiros. Apesar de quase todos os carecas terem tido contato com o material, nem todos simpatizaram com as idéias pregadas nessas matérias. Tal fenômeno gerou ainda maiores cisões entre tribos, agora entre os carecas.
Tomado como molde, o neonazismo europeu serviu apenas como elemento de fermentação, visto que muitas de suas idéias chocavam-se diretamente com o público brasileiro que se posicionava como espectador daquilo que acontecia na Europa: Márcia Regina cita em seu livro a passagem em que um jovem faz o seguinte relato: "O Rafael me contou que um cara escreveu para a banda 'Four Skins'(Inglaterra) e que na resposta eles diziam odiar latino americano e mandaram um pau desenhado(...)".8
Então para os carecas o movimento deveria ser exclusivamente nacional. Dessa forma, passa o movimento a assumir o caráter nacionalista que verdadeiramente marca os movimentos de extrema direita. Diante desse quadro, os Carecas do Subúrbio manifestaram-se contra os skinheads nazistas e apenas consideraram-se nacionalistas. Confrontada a postura adotada por eles com as doutrinas nazistas, claramente se percebem influências, principalmente com relação ao ódio expressado pela falta de coesão e desprezo pelos valores morais mais arraigados, manifestados desde sempre pelos punks, bem como pela abrangência em sua esfera de intolerância dos judeus e dos homossexuais, assumido para tanto as mesma justificativas nazistas.
E os grupos políticos chegam aos carecas. Os integralistas, vendo deste grupo em formação um elemento interessante, e vendo com bons olhos o nacionalismo exacerbado dos carecas. No entanto, como visto, não são todos os carecas que participaram deste movimento de absorção das teorias pregadoras do nacionalismo: havendo a adesão maciça dos carecas oriundos do ABC paulista, há a separação dos carecas entre os do subúrbio da cidade de São Paulo e os recém formados "Carecas do ABC".
As diferenças são poucas, o entanto, entre os dois grupos. Primeiramente os Carecas do Subúrbio se concentram mais na Zona Leste de São Paulo e os Carecas do ABC nas cidades próximas da Grande São Paulo, concentrando-se em Santo André.9 Em segundo lugar, a maior proximidade à AIB, com sede no Rio de Janeiro, dos carecas do ABC, tanto que tem como lema "Deus, Pátria e Família" assim como os integralistas de 1932. Já os Carecas de Subúrbio recusam-se aderir a qualquer partido ou associação de cunho político. Os Carecas do ABC adotam uma postura machista, recusando a presença de mulheres em seus grupos, e adotando inclusive a hierarquia militar. 10
O pior está por vir. No final dos anos 80, o movimento começa a atingir a classe média, até então mantida fora dos movimentos iniciais. Começa a radicalização extrema no seio dos grupos carecas e começa o movimento skinhead: assumindo uma postura claramente racista, adotam os valores pregados pelos skinheads europeus e americanos, adotando a disciplina neonazista como filosofia de vida. Com isso , o grupo passa a angariar simpatizantes não apenas na Grande São Paulo, mas também no sul do país, com a grande presença de grupos de origem européia e favoráveis a separação entre os estados do sul do país e as outras regiões, identificando-as como a razão para a pobreza e o subdesenvolvimento do país. Surge então o movimento que veio a se denominar "White Power"("Poder Branco"). Acreditando na superioridade da raça branca, adotam a política de ódio contra negros, judeus, homossexuais e nordestinos, considerando-os mesmo sub-raças. Dentro desta ótica, passam a considerar os nordestinos de uma forma geral como uma raça a parte, responsabilizando-os pela crise de desemprego que atinge São Paulo, desta forma condenando a migração em busca de melhores condições de vida dos oriundos dos Estados do Norte e Nordeste do país. Veja este trecho de uma letra de música da banda paulista "W.C.H.C" que Márcia Regina conseguiu em um dos fanzines por ela estudados:
"Migrante,
Você vem pra cá
Buscar o que não tem lá,
Maldito migrante, desista
São Paulo não te agüenta.
Você só suga o sangue paulista!
Apenas mais um na concorrência.
Empregos, mulheres, terras,
Tudo isso voce vai roubar.
Volte para sua terra, migrante
Filho da puta!" 11
Neste ambiente de fomentação da intolerância, eis que surge um guru: o gaúcho Siegfried Ellwanger, que passa a utilizar o pseudônimo de S.E. Castan, dono da revisão Editora, passa a escrever e publicar livros que pretendem fazer uma revisão histórica, notadamente do holocausto. Fazendo a apologia do nazismo e propagando o anti-semitismo, sugere uma fraude sobre o que foi até então escrito e disseminado sobre a doutrina do nacional-socialismo. Dentre seus livros, encontram-se títulos como : "Holocausto: Judeu ou Alemão? - Nos Bastidores da Mentira do Século" e "Acabou o Gás". Nestas obras, pretende o autor mostrar como fraude a existência de câmaras de Gás em campos de concentração nazistas, utilizando-se de métodos e provas por ele descritos como científicos. Toda a história de atrocidades cometidas contra os judeus durante a Segunda Guerra teria sido, segundo Ellwanger, uma conspiração internacional tramada pelos judeus para difamar a Alemanha. Em um excerto deste livro, justifica Castan a saída intempestiva de Hitler durante a c vitória de Jesse Owens durante as olimpíadas de Berlim como uma orientação dada pelo Comitê Olímpico Internacional para que o Führer não cumprimentasse qualquer atleta após a vitória de outro americano, ocorrida em um momento anterior.
De toda forma, a ligação dos recém-formados skinheads com a política viria: o Partido Nacionalista Revolucionário Brasileiro (PNRB), surgido em sua origem com o nome de Partido Nacional-Socialista Brasileiro (PNSB) veio a atingir a necessidade dos skinheads de uma articulação política. Fundada por Armando Zanine Jr., tem como características patentes as bandeiras já levantadas anteriormente pelo grupo: o nacionalismo, a xenofobia e o anti-semitismo. Mesmo na clandestinidade, o partido continua suas atividades de forma indireta, através da construção ideológica e do apoio à atividade desenvolvidas pelos membros do White Power.
Dentre os movimentos neonazistas no país, seguindo a mesma linha de pensamento do White Power, chama a atenção o Movimento Participativo Nacionalista Social (PARNASO) Estruturalmente semelhante ao nazismo alemão, possui estatutos extraídos daquele partido e possuem como bandeira de luta os questionamentos levantados por Castan: a negação do Holocausto. (12)
O ponto de convergência entre todas as denominações entre os chamados carecas é a violência: tomada não apenas como uma forma de alertar a sociedade para seus pontos de vista, possui mesmo um caráter de entretenimento para os integrantes destas gangues. A eleição de alvos diversos, na verdade, é diferenciação mais evidente entre as tribos, embora o anti-semitismo e o ódio aos homossexuais seja uma unanimidade entre as doutrinas pregadas. Dentre os outros grupos presentes no direcionamento do ódio incontido estão os que se mantiveram fiéis à ideologia punk, os roqueiros de maneira genérica, os jovens membros de classes sociais superiores ( pejorativamente denominados "boys") e outras formas de agremiação juvenil sob forma de tribos urbanas. De atividade eminentemente noturna, saem à caça de vítimas movidos por nenhuma outra forma de pensamento que não a intolerância racial e ideológica. As justificativas de busca de proteção da violência urbana com a agremiação em gangues continuam a ser utilizadas, apesar de agirem como verdadeiros elementos criadores de violência.
As guerras entre as gangues ainda continuam: superando as diferenças, os Carecas do ABC e do Subúrbio uniram forças em 1994 com o propósito de destruir o inimigo recém formado, o White Power, dos quais se diferenciavam pela aceitação de negros, mulatos e nordestinos em suas fileiras. No entanto, a onda de violência, como não poderia ser diferente, só aumentou com os confrontamentos constantes, não raramente resultando em mortes. A partir daí, a imagem criada pelos cabeças raspadas, já nada popular na sociedade, piorou, com a freqüência com que estes conflitos repercutiam nos órgãos de comunicação, noticiando espancamentos, depredações e estupros cometidos na guerra entre as gangues.
O caso recente de maior repercussão na mídia foi o assassinato do adestrador de cães homossexual Edson Neris da Silva, espancado até a morte por aproximadamente 30 Carecas do ABC. Motivo: homossexual assumido, passeava de amos dadas com o namorado na Praça da República, no centro de São Paulo.
A partir deste episódio e com a conseqüente perseguição promovida pela imprensa e pela polícia às gangues, começou uma represália que se manifestou sob a forma de carros-bomba enviadas ao organizador do Movimento do Orgulho Gay e ao vereador Italo Cardoso (PT), ambos na capital paulista. A mensagem que acompanhava a bomba enviada ao vereador encontra-se aqui transcrita:
"Italo venha nos pegar.
vamos detruir todos os veados, pretos e nordestinos .
Nós que somos da raça pura, brancos homens e lutamos pelo fim dessa merda que são os veados, pretos e nordestinos e que nos impede de sair à noite, pois somos obrigados a encontrar essas bichas nojentas, estes pretos fedidos e os cabecinhas chatas que nos fazem vomitar, estão tomando conta da cidade.
Esses filhos da puta estão dominando até policiais e vocês, cuzões de políticos juntamente com estas merdas de organizações de direitos himanos, ficam protegendo estas escórias que deveriam ser usados como adubo.
Ficamos um tempo sem aparecer, pois estávamos nos organizando para a partir dia 7 de setembro aproveitar a data para liberar o Brasil destes excrementos.
Todos que defendem estas sub-raças, vão se arrepender e vamos exterminar os principais para dar um exemplo de quem dominará o mundo.
Estas comissões formadas por imbecis- os grupos de veados, de pretos, de colocadores de tijolos, mais essas ONGs como Tortura Nunca Mais, Anistia Internacional, Gapa, Acat e outras- todas vão se foder.
Escolhemos um de cada grupo para dar uma lição para dar servir de exemplo. Já escolhemos os merdas de cada porra destas merdas. Podem esperar alguns prsentinhos nossos. Nos aguardem pois a limpeza vai começar.
Salve a raça superior - Nós OS SKINHEADS"
Recentemente foi encontrado nos corredores da USP - Universidade de São Paulo um recorte de jornal noticiando a existência de um estudante neonazista nos quadros da Faculdade de Letras daquela universidade: André Schind Amaral Gurgel participou da fundação da União Nacional Socialista de São Paulo (UNSSP). Tornou-se conhecido por organizar uma campanha de expulsão dos nordestinos de São Paulo. Angariou a antipatia de seus colegas de campus e foi obrigado a trancar a matrícula sob pena de sofrer tentativas de linchamento, segundo relato de seus colegas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A diferença dos hippies e dos punks se fundamenta no comportamento e na origem sócio-política. O cerne político de ambos é o mesmo, como um movimento contrário ao Estado capitalista, os hippies nos EUA e os punks na Inglaterra.
Apenas um dos movimentos atingiram o Brasil com força e o movivento hippie não atingiu tanto a sociedade brasileira com tanto impacto quanto o punk. E este ficou em evidência no começo da década de 80, no fim do período da ditadura militar. As liberdades civis estavam sendo mais respeitadas tivemos a campanha de Diretas Já, a sociedade brasileira estava vivendo um período de redemocratização. Este contexto era totalmente diferente na época do aparecimento do movimento hippie nos EUA onde realmente houve este movimento. No auge da ditadura tornou-se impossível o aparecimento de um movimento de caráter brasileiro.
Os punks criticam o sistema, a mídia, mas estes foram o sustentáculo para que o movimento pudesse se desenvolver no grandes centros urbanos. É a democracia, com todos os seus defeitos, que permite também os "carecas" se expressarem dentro da sociedade que tanto odeiam. Estes movimentos antidemocratas surgem, como surgiram na Alemanha e Itália, através de um governo democrático.
Concordo com Helena Salen quando sugere que, apesar de alguns destes movimento neguem serem neonazistas, o seu caráter excludente leva-os a tal. Os dois principais: Carecas do Subúrbio e Carecas do ABC foram responsáveis por vários crimes dentro dos limites da cidade de São Paulo e fora dele. O ódio irracional destes grupos a outros agrupamentos sociais consegue ter a mesma violência que a S.S tinha na Alemanha, alguns dos alvos apenas mudaram.
O que mais se choca é que estes grupos chegam ao absurdo de concordar com idéias como as de S.E. Castan. Eles lêem e tomam tal teoria como verdade inequívoca. O preços baixos de seus livros possibilitou que as camadas baixas, de onde provêem os "carecas" , tenham acesso a seus livros. O que Castan faz também não é novidade.
A propaganda foi vista como uma arma poderosissíma para divulgar as diversas ideologias que foi muito, mas muito exploradas por Hitler. Um governante que tira a Alemanha da crise, dá emprego ao operariado alemão e melhora suas condições de vida, logicamente que o líder nazista cairia nas graças do povo gemânico. Era a política da "Alemanha para os alemães".
O que os neonazistas brasileiros pregam é justamente a melhoria do país através da exclusão de uma parcela da sociedade. A diversidade racial que existe em nosso país só não foi engolida pelos White Power que acreditam piamente estarem em algum país europeu. Estes são a minoria da minoria, e tem que se relegar à clandestinidade política.
Já os "carecas" têm representação política, o PRONA que torna a situação política mais complicada ainda. Para se ter uma idéia de onde estamos nos envolvendo nas eleições municipais deste ano, o PRONA teve a vereadora mais votada na cidade de São Paulo. E para ser mais preocupante ainda temos a eleição de Jorg Haider como chefe do parlamento austríaco. As pressões contra a Áustria não resultaram o efeito desejado e Haider continua no poder.
Estaríamos vivendo um novo período de extremismo político? Ou vamos cometer o mesmo erro dos historiadores da década de 30 ao se referirem ao fascismo como um movimento passageiro? Realmente foi passageiro, mas o rastro de terror que o nazi-fascismo deixou feridas tão profundas que até os próprios alemães esforçam-se para esquecer.
O terror paira no ar na Europa, porém estaríamos ameaçados? É só mais uma onda juvenil dentre outras? A seriedade com que tratam o movimento os membros destes grupos não dá margem para indiferença. São organizados, tem contatos no exterior, fazem propaganda através dos fanzines, e como estamos no final do século XX, tem à sua disposição a internet. Que já brincou com fogo não quer se queimar de novo, você chegaria perto desta faísca? Chegue perto para ver se queima. Afinal é só o Brasil.

Relações de comércio do Brasil com a Europa.

Em 2001, o intercâmbio comercial entre o
Brasil e a UE totalizou US$ 29,688 bilhões.
Primeiro parceiro comercial do Brasil, a UE
recebeu, nesse ano, 26,84% das exportações
brasileiras (correspondentes a US$ 14,865 bilhões)
e foi origem de 25,9% das importações
realizadas pelo Brasil (num volume de US$
14,821 bilhões), superando os Estados Unidos
como maior parceiro comercial do País.
Igualmente relevante é o fato de que a UE
também se destaca como o primeiro investidor
estrangeiro no Brasil. Até 2001, os investimentos
diretos estrangeiros no Brasil
totalizavam US$ 233,791 bilhões, dos quais
US$ 102,434 (equivalentes a 43,8%) originaram-
se nos quinze países-membros da UE, segundo
dados do Banco Central do Brasil.
O que se pode notar é que os investimentos
diretos europeus aumentaram expressivamente
a partir de 1998, e é de origem européia
a grande maioria dos capitais investidos
nas privatizações realizadas pelo Governo brasileiro.
Para a intensificação dessas relações muito
contribuiu o Acordo-Quadro de Cooperação
Comunidade Européia-Brasil, assinado em
1992 e em vigor desde 1995. Nele encontramse
listadas as áreas consideradas prioritárias para
o desenvolvimento futuro da cooperação bilateral.
Mais precisamente os setores econômico
e comercial, industrial, científico e
tecnológico, energético, de transportes, telecomunicações
e tecnologias da informação,
meio ambiente, agricultura, desenvolvimento
social, cultura, formação, integração regional,
administração pública e luta contra as drogas,
entre outros.
O Acordo estabeleceu o princípio da concessão
recíproca da cláusula da nação mais
favorecida, o que facilita as relações comerciais
entre as partes. Trata-se de um documento
dos mais abrangentes. Seu texto estabelece
bases sólidas para uma ampla cooperação entre
a Europa e o Brasil nos mais diversos setores.
As possibilidades de cooperação criadas
no contexto do Acordo ainda não foram integralmente
exploradas nos poucos anos de sua
vigência, mas ainda assim a UE tem-se firmado
cada vez mais como o principal parceiro
do Brasil, não apenas em termos comerciais,
mas também em matéria de cooperação técnica
internacional.
Um impulso adicional para as relações entre
a UE e o Brasil foi a criação do Mercosul,
processo de integração regional que desde seu
início recebeu o apoio da UE. A materialização
desse interesse deu-se por meio da assinatura
do Acordo de Cooperação Inter-Regional com
o Mercosul, em 1995. Posto em vigor no mês
de novembro de 1997, o Acordo tornou-se o
primeiro documento dessa natureza concluído
entre dois blocos regionais e constitui a base
para um maior estreitamento das relações entre
as duas regiões. A partir da assinatura do
Acordo, a UE e o Mercosul deram início, em
1999, a um processo de negociação que deverá
levar à criação de um acordo de associação
inter-regional.
Inúmeras e relevantes ações de coopera
ção, principalmente aquelas mais diretamente
vinculadas à dimensão da integração regional,
passaram a ser desenvolvidas a partir de
1995 no quadro desse novo acordo, contribuindo
para fortalecer as relações entre a União
Européia e os países que integram o Mercosul.
Esses dois acordos são a referência para o
trabalho da Delegação da Comissão Européia
no Brasil. Os documentos poder ser acessados
no endereço eletrônico http://www.delbra.
cec.eu.int.
Ao exercer sua condição de representante
dos interesses da UE junto ao Governo brasileiro,
na área comercial, a Comissão Européia,
monitora a situação de acesso ao mercado
brasileiro e, da mesma forma, fornece as
informações no sentido inverso. Além da tarefa
fiscalizadora, a Comissão atua na promoção
de encontros e negócios entre empresários
brasileiros e europeus, realizados principalmente
no quadro do programa de cooperação
empresarial AL-INVEST.
O foro para as eventuais divergências nas
questões de comércio entre as duas partes,
em função de acordos internacionais assumidos
por ambas, é a Organização Mundial do
Comércio (OMC), instituição perante a qual o
Brasil e a UE assumiram compromissos de
liberalização comercial. Vale dizer que o respeito
a esses compromissos deve ser continuamente
monitorado.
Para exercer essa tarefa, a Comissão conta
com uma série de instrumentos, entre os quais
figuram uma estreita colaboração com o Governo
e uma efetiva articulação com o setor
privado brasileiro.
Com a franca liberalização dos mercados
nacionais e a abertura crescente da economia
brasileira, a tarefa da Comissão assume às vezes
uma função mais delicada: buscar resolver
impasses, como ocorre com os contenciosos
comerciais. Nessas oportunidades, procura-
se identificar soluções satisfatórias a ambas
as partes de forma a evitar a solução de controvérsias
por meio da OMC.
O estabelecimento de um painel (termo
utilizado na OMC para indicar a solução litigiosa
de controvérsias comerciais) é visto como
última opção. De fato, não foram muitos os
exemplos desse tipo de procedimento
registrados, nos últimos anos, envolvendo a UE
e o Brasil.
Os questionamentos relativos ao acesso aos
mercados (como barreiras alfandegárias e
fitossanitárias) são vistos em princípio como
um processo natural quando se referem a economias
que abriram as suas portas ao mundo
recentemente, a exemplo do Brasil. No entanto,
torna-se necessário verificar se não há
nenhuma infração aos protocolos firmados.
Assim, a primeira opção é de colaboração e
não de confronto.
Um exemplo marcante da cooperação
entre a UE e o Brasil é representado pela colaboração
em matéria sanitária. Nesse setor, foram
registrados, nos últimos anos, diversos casos
envolvendo interesses vinculados às exportações
européias e também às vendas brasileiras
para o mercado europeu (febre aftosa e BSE,
também conhecida como a doença da “vaca
louca”). Praticamente na totalidade dos casos,
a colaboração entre as partes foi eficaz, e as
medidas tomadas para a proteção dos consumidores
foram marcadas pela plena observância
dos padrões internacionalmente aceitos.
A Comissão Européia também intervém no
que diz respeito ao acesso de produtores brasileiros
ao mercado europeu. Nesses casos, a sua
Delegação no Brasil fornece informações relativas
aos padrões e regulamentos a serem cumpridos
pelas empresas brasileiras interessadas
em exportar para o mercado único europeu.
Por outro lado, a Comissão Européia também
atua no esclarecimento de queixas envolvendo
determinadas situações comerciais
consideradas discriminatórias pelo Governo
brasileiro. Como exemplo de contenciosos em
andamento, o Brasil está questionando a aplicação
pela Comunidade Européia de regras
antidumping para tubos de aço.
Um caso já
solucionado relacionava-se à discriminação
positiva oferecida pela UE ao café solúvel colombiano
em sua entrada no mercado europeu,
prejudicando os interesses dos exportadores
brasileiros. A solução para o problema
consistiu na fixação de uma quota específica,
isenta de tarifas e destinada quase integralmente
ao Brasil, o que satisfez as autoridades
e os exportadores brasileiros.
Esses são apenas exemplos de contenciosos
comumente registrados no comércio
internacional. É oportuno lembrar que a intensificação
das relações comercias multiplica
os possíveis atritos devido à existência de
interesses conflitantes. Nada mais natural,
porém, que a existência de desacordo entre
parceiros comerciais importantes como a UE
e o Brasil. O mais importante é que, na maioria
das vezes, os interesses de ambas as partes
acabam por convergir e as posições se
harmonizam.
É oportuno lembrar que, ao contrário daquilo
que se diz freqüentemente, o mercado
europeu é bem mais aberto do que se pensa.
Por meio do Sistema de Preferências Generalizadas
(SPG), do qual o Brasil é beneficiário,
dois terços dos produtos brasileiros (agrícolas e
industriais) têm acesso ao mercado europeu
em regime de isenção tarifária (tarifa zero).
Além disso, a proposta apresentada pela
UE no contexto das negociações com o
Mercosul amplia ainda mais essa liberalização,
possibilitando que até 90% dos produtos exportados
pelo Brasil (e pelos demais paísesmembros
do Mercosul) possam ingressar no
mercado europeu sob esse regime de isenção
tarifária, em um prazo a ser definido pela negociação.
Há também que se destacar o fato de que
o Brasil e a UE estiveram lado a lado em defesa
do lançamento de uma nova rodada multilateral
de negociações comerciais na OMC,
definida em Doha (Qatar). A chamada “Rodada
para o Desenvolvimento”, que se prolongará
de 2002 a 2004, deverá contribuir
decisivamente para ampliar ainda mais o
acesso aos mercados europeu e brasileiro, respectivamente.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Relaçoes de comércio do Brasil com a Europa

Comércio Exterior no Brasil

Comércio exterior é a troca de bens e serviços realizada entre fronteiras internacionais ou territoriais. Normalmente representa uma grande parcela do PIB. Até 1960, o Brasil exportava produtos primários como o algodão, cacau, fumo, açúcar, madeira, carne, café (representando 70% das exportações) e outros. Os produtos naturais não manufaturados representavam taxa maior que 95% nas exportações.

Hoje, o Brasil exporta diversos produtos industrializados e semimanufaturados como calçados, suco de laranja, produtos têxteis, óleos comestíveis, bebidas, alimentos industrializados, aparelhos mecânicos, armamentos, produtos químicos, material de transporte e outros chegando a 55% e 65% das exportações.

As importações também sofreram alterações, pois antigamente importava-se quase que totalmente, bens manufaturados, e hoje aproximadamente 40% das importações são matérias-primas, combustíveis, minerais, trigo, carne, bebidas, artigo de informática e telefonia, alguns metais, máquinas, motores e vário outros.

Os principais mercados que o Brasil exporta seus produtos são: União Européia, Estados Unidos, Argentina, Japão, Paraguai, Uruguai, México, Chile, China, Taiwan, Coréia do Sul e Arábia Saudita.

Os principais parceiros que o Brasil importa seus produtos são: Estados Unidos, União Européia, Argentina, Arábia Saudita, Japão, Venezuela, México, Uruguai, Chile, China, Coréia do Sul, Kuwait e Nigéria.

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segunda-feira, 11 de maio de 2009

Consequencias da 'Crise econômica' no Brasil


]
“A crise é muito séria”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva . “E tão profunda que nós ainda não sabemos o que vai ser amanhã.” Lula acerta ao não fazer previsões. É impossível antecipar o rumo dos acontecimentos, quanto tempo a crise vai durar ou a dimensão dos reflexos que ela terá sobre a economia brasileira. Mas é possível falar do presente — e ele mostra que o país e suas empresas não estão imunes ao que acontece no resto do mundo.Alguns exemplos:- Dias atrás, a fabricante de aviões Embraer anunciou que adiará a entrega de cinco jatos da família 170/190. Há o risco de o negócio não ser concretizado, o que significará uma perda estimada em mais de 160 milhões de dólares. A postergação da entrega ocorreu porque os clientes — companhias americanas, européias e australianas — não encontraram dinheiro na praça para honrar o pagamento.- Empresas de trading, responsáveis por 30% do custeio dos produtores brasileiros de grãos, reduziram brutalmente o crédito, colocando em risco o financiamento da próxima safra.- Há cerca de três meses, a incorporadora paulista Abyara montou uma estratégia para reforçar seu caixa e reduzir um endividamento de 455 milhões de reais. As ações incluíam a venda da corretora de imóveis, de uma parte dos terrenos da companhia e a capitalização por meio de empréstimos ou de aumento de capital. A primeira medida foi concretizada com a venda da corretora para a BR Brokers, por 250 milhões de reais. As outras foram atropeladas pelo terremoto financeiro. “Não contávamos com a magnitude da crise, que foi devastadora”, diz Alexandre Sande, executivo de relações com investidores da Abyara.- Bancos e montadoras de automóveis começam a apertar os prazos de financiamento. O teto para o pagamento de um carro zero-quilômetro baixou de 99 para 72 meses. O mercado prevê que a situação vai apertar ainda mais, com nova redução do teto, para 48 meses, num futuro próximo.•Nos últimos dias, um regime de medo instalou-se no mercado financeiro mundial. Em situações assim, quem tem recursos prefere esperar para ver. E é justamente essa falta de dinheiro, a escassez de crédito, o primeiro reflexo no Brasil da crise gestada no mundo desenvolvido. “Não se trata de uma tragédia, mas a escassez de crédito no país preocupa”, diz Joel Bogdanski, economista-chefe do banco Itaú. “Foi justamente o crédito o grande motor do desenvolvimento brasileiro no período recente.” Como era previsível, o capital estrangeiro, uma das principais fontes irrigadoras do país, é o mais arredio. De acordo com o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, cerca de 25% do total de dinheiro disponível para investimentos feitos no Brasil vem de fora. Essa é justamente a torneira que está secando mais rapidamente nos últimos meses, por vários canais. As multinacionais instaladas no país, por exemplo, têm agido como esponjas, sugando para a matriz boa parte do dinheiro disponível por aqui. Isso é visível quando se analisa o ritmo das remessas de lucros, que cresce de forma vertiginosa à medida que a crise internacional se agrava. Segundo dados do Banco Central, até agosto essas companhias enviaram 24,7 bilhões de dólares para o exterior. Esse valor já é maior do que a soma das remessas realizadas em todo o ano passado. Outra válvula de escape dos dólares é a bolsa de valores. Assustados com a deterioração do cenário internacional e pressionados a cobrir prejuízos lá fora, os investidores internacionais — responsáveis por cerca de 35% da movimentação da Bovespa — sacaram 9,1 bilhões de dólares do mercado acionário até o final de setembro. Na segunda-feira negra, dia 29 de setembro, a Bovespa registrou um dos maiores tombos de sua história: 9,36%. Foi uma das maiores quedas entre os pregões mundiais, motivada pelo pânico gerado após a rejeição, por parte do Congresso americano, de um pacote de ajuda de 700 bilhões de dólares ao mercado financeiro.Cenas de investidores estrangeiros batendo em debandada são recorrentes na história recente do Brasil, é verdade, mas o momento atual apresenta diferenças fundamentais. No passado, o país se portava como alguém que desejava muito participar de uma festa, mas se frustrava com freqüência por não ter o traje adequado para entrar no salão. Com problemas como a inflação nas alturas e o clima de instabilidade política, o Brasil sempre acabava barrado na porta. A maioria dos indicadores do país hoje, ao contrário, é positiva aos olhos dos investidores estrangeiros — e isso não mudou desde o início da crise americana do subprime. No final de setembro, em meio a um dos momentos mais agudos do pânico financeiro internacional, o IBGE divulgou dados mostrando que a renda da população crescera pelo terceiro ano seguido. A inflação, que meses atrás ameaçava se desgarrar da meta estabelecida pelo governo, voltou a ficar sob controle. E a taxa de crescimento do país em 2008, antes estimada em 4,8%, foi revista para 5%. Ironicamente, agora que o Brasil se apresenta em traje de gala para o baile da economia global, a luz do salão já acendeu e os garçons estão recolhendo as mesas e varrendo o chão. E essa luz, como definiu o ex-presidente do Banco Central e sócio do fundo Gávea Investimentos Armínio Fraga, já passou de vermelha para roxa. “No passado, o mundo tinha dinheiro para emprestar, mas não éramos um país confiável”, afirma Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda e sócio da consultoria Tendências. “Agora, todos gostariam de negociar com o Brasil, mas não há dinheiro.”Crédito escassoEm agosto, os empréstimos para empresas no país chegaram a 422 bilhões de reais — ante o volume de aproximadamente 300 bilhões de reais registrado no mesmo período do ano passado. Com o agravamento da crise nos Estados Unidos, as companhias deverão continuar recorrendo aos bancos nacionais como fonte de financiamento. Isso tende a pressionar ainda mais o estoque de crédito das instituições, que reagem tornando o dinheiro mais caro e a concessão de crédito muito mais seletiva. Para complicar o quadro, também os bancos brasileiros costumam recorrer ao mercado internacional de crédito para captar recursos e repassá-los a clientes brasileiros — recursos que hoje não mais estão disponíveis.Não bastasse esse cenário adverso, a situação de escassez de dinheiro no país se agravou nas últimas semanas devido à atuação de grandes empresas. Sadia e Aracruz registraram enormes perdas apostando na desvalorização do dólar frente ao real nos mercados futuros e tiveram de recorrer aos bancos para cobrir o rombo decorrente do erro na aposta — nas últimas semanas, é o real que tem perdido valor frente à moeda americana. Essa corrida tornou ainda mais rarefeita a camada de crédito disponível no mercado. A prática de especulação cambial, embora não seja ilegal, sempre foi encarada com ressalvas por parte do mundo financeiro, uma vez que expõe o caixa das empresas a fortes oscilações das moedas. Foi o que aconteceu quando a maré virou e a cotação do dólar subiu. A Sadia anunciou prejuízo de 760 milhões de reais com esse tipo de engenharia financeira — mais do que todo o seu lucro líquido no ano passado. Estima-se que a Aracruz tenha perdido cerca de 300 milhões de reais na jogada. Os diretores financeiros dessas duas empresas foram afastados e as ações despencaram.Tão logo percebeu os estragos que a desvalorização do real e a falta de dinheiro no caixa das empresas poderiam causar, o governo começou a injetar liquidez no mercado financeiro. A primeira medida consistiu em voltar a oferecer dólares ao mercado por meio de leilões cambiais, algo que não acontecia desde 2003. Até o final de setembro, o Banco Central já havia vendido cerca de 1 bilhão de dólares. A segunda ação do BC teve como objetivo diminuir o nível do depósito compulsório — a parte dos recursos que os bancos são obrigados a recolher para a instituição a fim de evitar uma expansão exagerada do crédito. Com o afrouxamento do compulsório, até o final de setembro cerca de 5,2 bilhões de reais voltaram a circular no mercado. As empresas exportadoras são outro ponto de atenção. Elas dependem de captação externa para financiar suas atividades, e esses recursos, quando existem, estão mais caros. Segundo dados do BC, o volume de empréstimos para os exportadores caiu 19,6% nos últimos 12 meses. No mesmo período, as taxas subiram de 11,1% para 17,4% ao ano. Para amenizar o problema, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que, até o fim do ano, o Tesouro fará aporte extra de 15 bilhões de reais para que o BNDES possa atender a parte da demanda de financiamento.Com o prolongamento da crise internacional, novas medidas podem ser adotadas. Uma das opções em debate nos últimos dias é utilizar parte das reservas cambiais do país, estimadas em 200 bilhões de dólares, para criar fundos de emergência de financiamento às empresas. Faz sentido tentar manter a liquidez do sistema, mas essa estratégia esbarra em duas limitações. Uma delas é que, por mais recursos que se mobilizem no momento, não há como suprir todo o fluxo de capital estrangeiro que irrigava a economia do país. Até o próximo ano, espera-se uma queda de84 bilhões de reais no volume de recursos direcionados aos investimentos produtivos — esse valor equivale ao orçamento do BNDES para 2008. Além disso, abrir exageradamente os cofres do governo pode aumentar o déficit nas contas públicas, atualmente perto da casa dos 60 bilhões de reais. “Já passamos do razoável em termos fiscais”, diz Fraga.Num cenário de grande turbulência no mercado global e recursos limitados do governo para aliviar os estragos, as empresas nacionais devem ser impelidas a realizar mudanças. A rede de varejo Casas Bahia, que tem 90% de suas vendas atreladas a financiamentos, registrou aumento de 45% para 55% na taxa de recusa às adesões de cartões de crédito de seus clientes nos últimos meses — ou seja, mais da metade dos pedidos de crédito tem sido barrada no crivo dos bancos. No curto prazo, segundo a empresa, esse aperto de crédito não compromete os números projectados. “Mantemos nossa previsão de crescimento de 7% para 2008”, diz Michael Klein, presidente da Casas Bahia. Mas, se as restrições aos pedidos de financiamento seguirem numa escalada e persistirem por muito mais tempo, parte do desempenho das vendas de bens de consumo no país vai ser comprometida. Um dos setores que podem ser mais atingidos é o de automóveis, cujas vendas hoje consomem um terço do crédito para pessoa física no Brasil. O mercado de carros, que cresceu 30% no ano passado, já projecta um crescimento menor para 2008. As estimativas variam de 10% a 20%. Outro setor em franco crescimento graças ao estímulo do crédito é o imobiliário. Em 12 meses terminados em Agosto deste ano, os bancos privados financiaram a compra de mais de 276 000 imóveis, um recorde histórico. Se a crise se alongar, é muito provável que esse ritmo seja contido.Esses problemas não representam uma fração sequer do que vem acontecendo lá fora, com a quebra bilionária de bancos e seguradoras, a ameaça de recessão e de disparada inflacionária e o desmonte do sistema financeiro. Vistos isoladamente, podem até não impressionar. Mas, em seu conjunto, têm o potencial — ainda não totalmente definido — de brecar o crescimento robusto que o Brasil vem atingindo nos últimos anos. Tal expansão foi beneficiada pelo vigor mundial e pela emergência de novas potências, como a China. Com um crescimento do PIB na casa dos 10% anuais, a China deu origem ao chamado super ciclo das commodities, um movimento que levou a produção e os preços de alimentos, metais e combustíveis a níveis inéditos. Poucos acreditam que a China crescerá menos de 8% ao ano na próxima década. Mas, assim como o Brasil, o país não está imune à doença do resto do mundo e já pressiona para baixo o preço das commodities. Nos últimos dias, os chineses resistiram ferozmente a um aumento de 11% no preço do minério de ferro fornecido pela Vale. Jornais chineses chegaram a noticiar a suspensão das compras — notícia negada posteriormente por Roger Agnelli, presidente da Vale. No setor do agro negócio, tanto fazendeiros quanto especialistas no mercado temem a interrupção nos próximos anos das sucessivas quebras de recorde na produção de grãos. “Se o mercado financeiro nos Estados Unidos diminuir ou estabilizar suas perdas, teremos uma volta dos fluxos de crédito em dois meses”, afirma Maílson da Nóbrega. Quando o dinheiro voltar para o mercado, é certo que o volume de capital disponível não será igual ao dos tempos de farra de liquidez na economia global.Na hipótese mais otimista, projectada pela consultora LCA, o ritmo de crescimento do volume de crédito para empresas deve cair de 20,4%, em 2008, para 17,6%, em 2009. No caso do crédito pessoal, a redução no período deve ser de 17,8% para 15,7% (veja quadro ao lado). Ou seja, apesar do nervosismo actual, nesse cenário haveria apenas uma leve desaceleração dos empréstimos no próximo ano. Já num quadro pessimista, que considera uma recessão prolongada em mercados como os Estados Unidos e a Europa, o volume de crédito disponível para as empresas vai ficar praticamente estacionado em 2009, apresentando uma ligeira oscilação negativa. O desempenho do PIB do Brasil no período está directamente atrelado a essas variáveis. Num cenário positivo, a taxa de evolução do PIB será de 3,7% em 2009. Na hipótese de uma catástrofe, esse índice cai para 2%. “Mesmo com os recentes desdobramentos da crise americana, nossa expectativa é que o cenário mais optimista tenha 65% de chance de se confirmar”, diz Paulo Borges, economista-chefe da LCA.

Influência da cultura Americana no Brasil


Até o final do século XIX, a Inglaterra mantém sua hegemonia como fonte dos empréstimos para o Brasil. As exportações brasileiras, entretanto, encontram nos Estados Unidos um ótimo cliente, principalmente na compra do café. O discurso nacionalista da Proclamação da República, em 1889, mistura-se a um sentimento antibritânico, que responsabiliza a Inglaterra pela difícil situação econômica do país no fim do Império. A partir desse momento, a presença norte-americana – nos setores econômico e cultural – começa a tornar-se cada vez mais intensa.A influência americana começou a atingir o mundo inteiro devido aos produtos da indústria cultural (cinematográfica, fonográfica, publicitária etc...). O rádio, a TV, as revistas, os quadrinhos e o cinema também comtribuíram muito para que o inglês se pretendesse uma língua universal.Hoje em dia é esta a língua dominante nos setores de grandes negócios e nas principais indústrias. Cerca de 65% das informações relacionadas a todos os meios de comunicação do mundo são dominadas pelos norte-americanos.Os EUA também dominam o mercado de consumo. Percebemos isso em em bebidas, cigarros, griffes, "manias" e outros elementos do tipo: Coca-Cola, Mc Donald's, jeans, camisetas, tênis, fast-food, goma de mascar, rock e filmes de ação, que se tornaram símbolo da cultura mundial com a mensagem "Made in USA".Isso acontece devido à globalização. Ela torna os países um só, pois interliga todos eles, formando grandes empresas multinacionais.Para os EUA é bom dominar a indústria mundial, pois isto cria uma espécie de de simpatia que faz com que a maioria das pessoas apoiem os norte-americanos.Na guerra entre os EUA e a Iugoslávia, por exemplo, pode-se perceber que, nos jornais de quase todo o mundo, não consideram os americanos culpados, mas sim os iugoslavos.Os americanos também vendem muito mais produtos, dentro de outros países,que até mesmo os próprios influenciados.Esta influência atinge os jovens de todo o mundo, pois a moda mundial vem dos EUA. Assim, olhando para fotos de um grande grupo de adolescentes de diferentes países, não conseguimos difenciar suas origens étnicas nem nacionais.Esta comunicação oral tem como objetivo diagnosticar as mudanças lingüísticas sofridas na Língua Portuguesa por influência da cultura norte-americana. Esta discussão está fundamentada nas propostas da Lexicologia, especificamente no tópico referente ao estrangeirismo, nosso foco principal de estudo. A língua portuguesa tem recebido vocábulos de línguas modernas como resultado das relações políticas, culturais e comerciais com outros países. O inglês tem fornecido uma vasta nomenclatura, demonstrando que o processo lingüístico está intimamente relacionado com a história sócio-poliítica-cultural de um povo. Mas a entrada de elementos estrangeiros em uma língua não é fruto das relações supracitadas; trata-se antes de tudo de um fenômeno sociolingüístico ligado ao prestígio de que goza uma língua ou o povo que a fala. Outro aspecto relevante para a pesquisa está ligado aos modelos ideológicos e que opacam a percepção dos povos dominados a não perceberem a relação de dominação, chegando mesmo a desejá-la (ALVES, 1999). Assim, nesse processo, perde-se não só identidade cultural, mas também a idiomática (SILVEIRA, 1998), sendo que uma língua comum, universal (o inglês) permite o mínimo de comunicação entre todos (IANNI, 2004). A metodologia utilizada é a da pesquisa bibliográfica fundamentada em livros e sites da internet. Chegamos à conclusão de que toda essa influência é reflexo de alguns fatores, entre o mais relevante, a globalização. Verificamos que é inegável a predileção por termos estrangeiros, resultando em uma total influência estrangeira e hegemônica do inglês na língua e na cultura brasileira, o que pode causar uma alienação ou um uso demasiado dos mesmos sem ligação com um contexto lingüístico adequado.